01/11/2011

Violência nas escolas


A violência no Américo Brasiliense

A vivência social da escola evidencia a vivência social do mundo: violência gerando violência. Irresponsabilidade de atos gerando conseqüências desastrosas. Parece um buraco negro, sem fim.
Alguns desavisados consideram que o grande problema esteja no ECA que “só oferece direitos e não cobra deveres”. Essa é uma fala comum no meio do magistério. Como também é comum ouvir dos pais: “Vejam o que a escola pode fazer, pois não tenho mais o que fazer com meu filho”.
Quando se vê um Estatuto como o ECA, atual e bem elaborado, elogiado pelo mundo afora, parece impossível que sua aplicação prática seja quase impossível. Como educadora, percebo que existem falhas. Não apenas no ECA, mas, e principalmente, em relação à compreensão do que significa educar.
Pais que consideram que nada podem fazer porque o filho pode ficar traumatizado, e consequentemente, eles irão perder dias de trabalho (quando têm trabalho) para se entenderem com as autoridades, explicando as razões de sua conduta. São pessoas que não sabem que a eles compete o dever não só legal, mas, e principalmente, moral, pessoal, psicológico, social e intransferível de preparar o filho para viver em sociedade. Têm como fonte de referência uma educação violenta e inconsequente que receberam. Não aprenderam a resolver os problemas de forma lógica e racional. E assim, ao invés de educar, criam filhos com agressões, palavrões, maus tratos, desrespeito. E ficam espantados com a rapidez e eficiência com que os filhos aprendem e os superam, na maioria das vezes tornando os próprios pais vitimas primeiras das violências do filho. Na escola, os violentos são os grandões que agridem os pequenos, os covardes que atacam pelas costas, os difamadores que agem em surdina. Seus atos recebem hoje o pomposo nome de bullying.
Outros pais, por omissão, displicência, ou sob a desculpa de “terem mais o que fazer”, esperam que a escola faça além de ser uma ponte entre a vida privada e a pública, a parte que compete a eles, pais.
Assim, os alunos violentos, de modo geral, refletem a violência ou o abandono a que são submetidos em sua própria família. À escola cabe então se conformar? Ou tentar mudar o estado caótico em que se encontra?
Em primeiro lugar, é necessário que sejam bem claras as regras de convivência social para todos da escola. O respeito ao outro é a primeira e principal regra a ser observada nesse contexto. E todos, indistintamente devem obedecer: alunos, professores, coordenadores, diretores, funcionários e pais.
Professores, pais, funcionários, coordenadores e diretores não estão acima desse contrato e devem respeitar todos e se fazerem respeitar por todos. Respeitar o outro é fazer valer os direitos do outro e fazer valer seus próprios direitos da forma correta. Não se educa com gritos, com palavrões, com desrespeitos com menosprezo.
O fato de ser aluno protegido pelo ECA não dá à criança ou ao jovem plenos poderes de agir como querem, pois o outro, o colega, o próximo também tem direitos a serem respeitados. O aluno que quer e precisa ter uma educação de qualidade não pode ficar submetido às torturas de uma aula em que o fortão, o agressor contumaz (e não importa o motivo da agressão ela tem que ser cuidada por quem tem competência para isso) impede que o professor trabalhe corretamente. Nesse ponto, muitas vezes a escola falha. Não porque quer falhar, mas porque as possibilidades colocadas a sua disposição- reunião do conselho, proposta de agastamento do aluno, dentre outras- deparam-se com impossibilidade real de virem resguardadas de violência maior sua saúde e sua vida e a vida de seus familiares, porque estão claramente expostos aos agressores maiores de fora da escola.
A solução está na escola, desde que ela tenha condições de efetivar suas decisões sem correr riscos maiores.
Considero que uma ampla campanha de esclarecimento do que são os direitos do ECA, o que são deveres dos pais, deva ser implementada por todos os órgãos de formação de opinião, inclusive por aqueles que trabalham a opinião dos leitores. Por que não contratar profissionais “marketeiros” para que façam isso de forma eficiente, como são feitas as campanhas políticas?
Essa campanha deveria ser acompanhada por uma revisão urgente no Código Civil, no ECA e no Código Penal, para que fossem tratadas de forma mais severa as inconsequências das atitudes dos pais em relação à educação dos filhos, além do abandono material e intelectual. Que se propusessem medidas que permitissem aferir em que grau os pais estão concorrendo para que a violência, o desrespeito e o descaso tornem a escola uma instituição subordinada a situações.
Outra medida necessária e até possível poderia ser a contratação de profissionais de várias áreas afins (psicólogos, assistentes sociais e até psiquiatras, por que não?) Isso o Estado e Municípios podem fazer com verbas públicas bem aplicadas, como é o caso dos percentuais do FUNDEB não destinados ao pagamento do magistério.
O que aconteceu na E E Dr. Américo Brasiliense realmente não é um fato isolado, não é sequer o primeiro e infelizmente não será o último se medidas urgentes não forem tomadas.
Como ex-aluna dessa escola, estudante em uma época em que professores e profissionais eram tratados de forma digna e respeitosa, e os alunos não se sentiam nem desrespeitados em seus direitos, porque conheciam seus deveres, nem poderosos por serem prepotentes, e como educadora, não posso me furtar a expor meu sentimento de tristeza, inconformidade e indignação com o fato. E mais: quero deixar consignada minha solidariedade à escola e aos profissionais da educação, batalhadores sem trégua, soldados de uma grande guerra contra tantos e tão grandes inimigos, e às autoridades do legislativo, do judiciário e do executivo, minha esperança de que encontrem um caminho para restabelecer a dignidade e o respeito pela escola, pelos professores e pela sociedade que, em último lugar sofrerá as consequências do que acontece na escola.

Ana Regina Hernandes Carrenho


Ex- Dirigente Regional de Ensino de Araçatuba, professora e diretora de escola pública

Este texto foi publicado com autorização de sua autora...Irenew.Donatelli
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